terça-feira, 24 de agosto de 2010

Cia. AbrAOsOlhOs Projeto: “O Sol de Maiakóvski no MST e o Erudito Chega ao Campo”

A Cia. AbrAOsOlhOs nasceu em 2001, em Santos, com o objetivo de apresentar uma proposta de ruptura com as linguagens coreográficas tradicionais e a vinculação de diferentes manifestações artísticas interagindo com a dança a partir de um pensamento comum.

A Cia. prioriza a colocação do individual a serviço da universalidade. A expressão pessoal através da criação espontânea e improvisação gestual buscando atingir o “sentir” universal despertando o espectador a sair de sua postura passiva estimulando-o a descoberta do seu ser.

A Cia. visa explorar novos caminhos na área da dança, sempre de maneira natural, buscando no popular e no movimento primitivo uma interação homem/sociedade. Movimentos reais reverberando em outros seres, projetando a dança para além do tempo real.

A Cia. tem por objetivo desenvolver um trabalho de criação individual ou em grupo e através da improvisação e expressão pessoal chegar a um movimento interior universal que possa despertar a sociedade para uma consciência coletiva.

A Cia. tem por criadora Jeanice Ferreira, em processo de estudo e pesquisa na área de dança

contemporânea, popular e improvisação. O elenco da Cia. é instável, já que instável é o movimento.

“O Sol de Maiakóvski no MST e o Erudito Chega ao Campo”

O projeto visa a interação entre a cultura erudita e popular, a pluralidade de manifestações artísticas e a concepção da arte como desencadeadora de sonhos, abridora de mentes e conscientizadora da sociedade humana, através da figura do poeta futurista Vladimir Maiakóvski, e da contemporização da Revolução Russa.

O ponto de partida do projeto partiu da leitura de clássicos da literatura russa, que venho lendo desde 2001, autores com Dostoievski, Gogol, Gorki, Tchecov, foram a principal fonte de inspiração para o projeto.

A pesquisa de composição coreográfica partiu da premissa de que qualquer movimento pode se transformar numa linguagem cênica, multiplicidade de recursos (dança, teatro, poesia). O corpo como recurso expressivo com um mínimo de tecnologia e utilizado como fim artístico e social.

Dança se relacionando com a palavra. Sentir o texto no corpo com suas dificuldades.

Mostrar a dança como produção de conhecimento, de saber, de estudo e pesquisa.

Movimentos livres que geram energia e impulsos que da quebra abrirão novos caminhos para a improvisação gestual.

O projeto tem quatro fases. Na primeira temos o fato histórico, vemos o homem tomar consciência da Revolução, interna ou externa, seja no MST, ou no século passado na Rússia czarista. Demonstra o processo desencadeador da revolta. É um momento de dor. Nesse momento temos o suporte erudito, a música é uma marcha-protesto de Gilberto Mendes sobre um poema de Haroldo de Campos, parte de um estilo barroco/renascentista e, passando por uma harmonia romântica, termina em moderno contraponto dissonante que se dissolve num rap. A coreografia busca nesse momento os movimentos duros e inquietos de soldados russos, trabalhando improvisação e marcação cênica.

Na segunda fase, ainda com música de Gilberto Mendes, vemos um caminho ascendente com movimentação suave, mas direta, indicando a descoberta do ser, da luz. É a alvorada, vislumbra-se a possibilidade de um novo tempo,um tempo de luz. Nesse momento tenta-se atingir a platéia, tentando uma proximidade para que o espectador desperte do seu torpor.

A terceira fase é o momento de trazer a tona o popular, o ponto de interligação entre o poeta e o povo. O Sol foi plantado e floresce no campo. A alegria da descoberta é demonstrada no ‘coco’ O Sol Lá Vem. A coreografia é basicamente pessoal de pesquisa na dança popular.

A última fase utiliza o poema A Extraordinária Aventura Vivida por Vladimir Maiakóvski no Verão na Datcha, de 1920 (Maiakóvski), como suporte para a movimentação coreográfica.

Principal momento do projeto, é um momento único já que a declamação do poema é feita ao vivo e conta com o acaso.

A improvisação sobre a palavra é o ponto de partida. A pesquisa partiu da reunião de todo o conhecimento recolhido durante o processo de amadurecimento e dedicação pessoal no universo da dança. Tudo que o corpo pode absorver ou não , talvez esteja presente nesta improvisação.

A coreografia da bailarina procura interpretar o movimento ulterior interno do poeta ao mesmo tempo em que expressa a simbiose entre o sol e homem.

Juntando a isso a busca do tema ‘Maiakóvski’ que pessoalmente traz a tona aspectos sociais inerentes à arte. Buscar a poesia na vida concreta. Fazer do corpo um corpo concreto e sensível. Massa e expressão. O que é dançar? Mover-se com arte? Ou o movimento por si só já é dança, e assim, arte? O falar, o ato de declamar uma poesia gerará uma dança interior no poeta, e será que ela pode ser visualizada?

Palavra e movimento, dança e comunicação, corpo e expressão. Esses são os pontos de ligação entre as fases do projeto.

Pesquisa Literária:

Kauss Vianna “A Dança” Em colaboração com Marco Antônio Carvalho

Editora Siciliano - São Paulo - 1990

Maiakóvski Poemas

Boris Schnaiderman, Augusto e Haroldo de Campos

Editora Perspectiva

Pesquisa Musical:

Madrigal Ars Viva - Música Nova para vozes

Maestro Roberto Martins

Prod. Sociedade Ars Viva

A Barca – Turista Aprendiz

CPC / Umes – 2000

Dimitri Shostakovich

Symphony No.6

Symphony No.12 “The Year of 1917”

Naxos – 1998/1999

Tempo de duração da coreografia: 10 minutos.

Espaço físico: a performance não convenciona apenas a utilização do palco para veiculação da obra, e sim estimula que ela seja apresentada em espaços alternativos, como: praças, armazéns, pátios e outros. A presença física do público mais próximo traz uma lembrança da época em que o poeta Maiakóvski entrava nos pátios das fábricas e lia para os operários seus poemas.

Em particular na cidade de Santos os lugares preferenciais seriam o centro histórico e o Porto.

Músicas: O Anjo Esquerdo da História (1997) – Gilberto Mendes (poema de Haroldo de Campos). Intérprete: Madrigal Ars Viva – 2:49;

Sol de Maiakóvski (1995) – Gilberto Mendes (poema Augusto de Campos). Intérprete: Madrigal Ars Viva – 0:54;

O Sol Lá Vem - Domínio público, adaptação: A Barca (coco anotado por Mário de Andrade). Intérprete: A Barca – 2:35.

Poema: A Extraordinária Aventura Vivida por Vladimir Maiakóvski no Verão na Datcha (Púchkino, Monte Akula, datcha de Rumiántzer, a 27 verstas pela estrada de ferro de Iaroslávl), de Maiakóvski, tradução de Augusto de Campos (1920) – 5 min. aproximadamente.

Cenário: Dois painéis confeccionados em jornal e sacos de politiereno pretos, utilizados como suporte para poema concreto escrito, em giz de cera sobre folhas de papel manteiga foscas e presas com alfinetes. Tamanho dos painéis: 2,41 de largura por 3,06 de comprimento. Os painéis serão colocados tendenciosamente no lado esquerdo do espectador; Caixote de madeira crua com pintura feita em tinta acrílica representando sangue derramado nas cores vermelha e siena queimada, colocado do lado direito do painel.

Poema Concreto: “Reverso/Revolução e Verso/Verso e Revolução/Solução”.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Preparando a chegada do Sol

O ano de 2001 foi um ano próspero na dança para mim. Foi um ano de descobertas, de criação, de limites e de desafios.
Antes do Sol intervir na minha vida houve um caminho, algo que foi me levando, me mostrando uma saída.
Desde que comecei a me aventurar pelo mundo da dança tive vontade de criar, fazer o que eu chamava de dança. Mostrar o que tinha dentro de mim. Mas a inexperiência dificultava as coisas (até hoje dificultam...).
Naquele ano de 2001, continuava a fazer as aulas de dança contemporânea no Sesc e foi por lá que vim a fazer dois workshops e uma oficina que me deram entusiasmo para me aventurar de vez num caminho trilhado por mim.
O primeiro workshop foi com Jussara Miller e abordava a Técnca Klauss Vianna e conteúdos de aprimoramento do movimento e refinamento da percepção corporal. Juntamente com o workshop tive a oportunidade de ver o espetáculo "Cacos de Louça Acaso Quebrada" da própria Jussara que me motivou a explorar novos caminhos. O workshop foi ótimo e me fez entrar em contato tanto com a técnica como com outras pessoas que buscavam seus caminhos na dança.
O outro workshop foi com Larissa S. Turtelli e tinha como proposta abrir espaços para as manifestações do corpo, o que fazia dele algo mais visceral e livre. A coreógrafa que também apresentava seu trabalho "Veias da Terra", mostrava algo mais perceptivo ligado as emoções e significados corporais que vinha de encontro ao que eu almejava artísticamente.
A oficina foi de Novo Circo, com Helena Figueira que fez com que eu experimentasse situações de limite do meu corpo que eu não estava acostumada. Me fez sair em busca daquilo que eu não conhecia e tinha medo de experimentar. Cada uma das ministrantes me ajudaram a ter coragem, me mostraram caminhos e me fizeram fazer parte daquilo que eu sonhava. O caminho a ser trilhado estava ali na frente, mas eu ainda não o via.